Hina-matsuri é uma das datas comemorativas mais tradicionais do Japão. Comemora-se o crescimento da menina e deseja-se a saúde e a sua prosperidade
Quando era criança e vivia no Japão, eu só queria saber mesmo era dos “novos” pokemon gold & silver ou do lendário jogo J-RPGDragon Quest VII.
Pois é, eu só tinha 10 anos na época (e você também não precisa saber que ontem passei o dia jogando Shovel Knight no 3DS).
A infância no Japão é legal, no geral. Mesmo.
Toda a sociedade japonesa está pronta para te mimar com doces coloridos e edições limitadas de brinquedos de animes.
O ano inteiro tem datas comemorativas no Japão para comemorar o crescimento das crianças. E no final de ano, aquele otoshidama (mesadinha bem gorda que os parentes dão).
Eu só tenho boas memórias de ter passado a infância no Japão. Não é uma sociedade perfeita, claro. Por exemplo, o bullying nas escolas é um dos desafios que eles estão enfrentando. Mas, no geral, posso dizer que tive uma infância muito boa.
Não é passinho mas eles também dançam!
Uma das demonstrações que reflete a valorização das crianças é o dia comemorativo chamado Hina-matsuri 【雛祭り】.
As meninas saem vestidas de kimono【着物】, recebem boneco decorativos super caros e até fazem comidas deliciosas para o dia. Eu falei deliciosas? São bem gostosas, e vocês podem tentar fazer tanto no Japão ou no Brasil (mais para baixo do artigo falo de algumas comidas).
Mesmo bitolado nos jogos e mangás, naquela época, eu olhava com uma certa inveja as meninas da mesma faixa etária que eram paparicadas no dia delas… mesmo que uma vez por ano.
Sabe aquelas decorações para páscoa ou natal nos super mercados? As lojas ficavam decorados para esse tal do Hina-matsuri. Então, a inveja era grande (acontece o mesmo para “dia dos meninos” mas criança tem inveja de tudo).
É algo tão lindo que… hoje já adulto, é um dos sonhos que tenho em poder comemorar assim e paparicar a filha quando um dia for pai.
Hina tem o significado de belo, ou, de primavera
O hina-matsuri é comemorado anualmente no dia 3 de março, é um dia para as meninas.
Essa festividade que, como várias outras datas comemorativas e tradicionais, vem do costume antigo de desejar a saúde e o crescimento próspero da criança.
Na prática, decora a casa com uma coleção de bonecos chamados de hina-ningyou【雛人形】, em uma escadaria chamada hina-dan【雛壇】.
Os bonecos têm uma hierarquia, representando o imperador e a sua esposa e seus subordinados. De fato, representam os bonecos antigos do Japão até na representação. Uma versão da barbie nipônico dos anos 1100.
Os japoneses realmente levam a sério, caprichando mesmo. Em uma cidade chamada Katsuura, em Chiba, chegaram a fazer uma versão gigante de 60 andares.
Eles estão mais próximos de vocês do que você imagina: no seu celular.
Procure pelo emoji 🎎
Esse emoji é exatamente esses bonecos do hina-ningyou.
Tem significado até nas posições
De onde vêm as princesas
Há várias versões sobre a origem dessa data e vou te contar a mais aceita entre elas.
Brincar de boneca parece ser algo que ultrapassa gerações e fronteiras. Era comum, inclusive, entre as nobrezas da Era Heian 【平安】(ano 794 – 1185).
Essa brincadeira de criança acabou virando um ritual sazonal na Era Edo【江戸】(ano 1602 – 1868) e foi se espalhando entre o povo daquela época. Que é natural, um costume da nobreza se espalhar entre a população.
A nobreza das nobrezas
Essa moda dos bonecos foi além de ser por decoração ou brincadeiras. Os bonecos são simbolizados por uma espécie de amuleto, algo que recebesse todos os males e infortúnios que a criança sofreria na vida.
Por isso, era comum caprichar os bonecos com itens e decorações mais caras, pois é um 【分身】(bunshin) , umas espécie de Clone ou alvo para proteger a criança.
Lembra de Naruto, fazendo suas cópias para apanhar no lugar? Por isso que lá se chama 【影分身】 (kage bunshin) = clone das sombras.
Por serem artigos caros, de luxo, naturalmente viram itens de status.
Assim, acabou até virando um yome-iri-dougu【嫁入り道具】, itens que a moça agora crescida levava da casa dos pais à nova ao se casar. As bonecas que era da mãe, eram passadas para as filhas e netas.
Até hoje, em alguns lugares é comum que a família da esposa pague os hina-ningyou da criança, que não é nada barato.
No filme 未来のみらい (mirai no mirai, disponível na Netflix) aparece a cena que preparam as hina-ningyou para a bebê rescem nascida.
No Japão tem uma crença de que se deixar as bonecas por muitos dias mesmo depois do hina-matsuri, as meninas não vai se casar.
No filme a personagem já crescida com idade de ser colegial, aparece para dar bronca no irmão mais velho.
Hoje em dia a maioria prefere fazer algo simples, só para decorar a casa um pouco, nada exagerado demais.
Em alguns lugares, há o costume de fazer nagashi-hina【流し雛】, que colocam bonecos de papeis a deriva do rio.
Eu falei deliciosos?
O legal que essa data comemorativa não para só nos bonecos. Ao comemorar, é normal preparar algumas comidas coloridas, com o rosa destacado. Os mais comuns são Chirashi zushi, doces como Hina arare e Hishi mochi, todas elas com cores alegres. Também é comum tomar uma bebida chamada amazake, um saquê doce para crianças.
Não é exatamente como uma festa de debutante daqui da América Latina, mas no sentido de comemorar o crescimento, é interessante notar que o desejo de que nada de ruim aconteça a criança é universal.
Eu. Falei. Deliciosos?
Extra: Vamos decorar a sua casa de hina-ningyou!
Mesmo sem os bonecos extra-trabalhados-e-caros, dá para deixar a sua casa com o clima de hina-matsuri.
Esse é o que achei mais legal para fazer aqui no Brasil, é um stand de ovos muito bonitinhos.
Para fazer, é só seguir os passos do origami.
Esse é o link para fazer o Obina, o bonequinho principe. Esse é o link para fazer a Mebina, a bonequinha da princesa.
Quem sabe combina com os ovos de páscoa e fazer uma versão morena que representa o Brasil? Se você fez, conta para a gente como foi (se tiver foto, mais legal ainda!)
O que achou desse tipo de festividade, você faria se estivesse no Japão? Ou faria mesmo aqui no Brasil? Comente aqui e vamos começar a segunda parte do papo sobre a cultura do Japão 🙂
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