Resgatando a tradição japonesa de escrever o sobrenome antes do nome, o governo do Japão decide aplicar esta ordem a nomes em romaji também.
A língua japonesa é escrita em Hiragana, Katakana e Kanji, além do romaji (transcrição fonética da língua japonesa para o alfabeto latino) e numerais (1, 2, 3) que nós usamos.
Apesar de soar estranho para os ocidentais, quando o nome japonês é escrito em japonês (com kanji e hiragana), o nome da família sempre veio na frente.
No entanto, ao utilizar o romaji, uma vez que este alfabeto tem como principal objetivo facilitar o entendimento da escrita japonesa para estrangeiros, os nomes japoneses eram escritos ao contrário (primeiro o nome, depois o sobrenome), seguindo a regra ocidental.
Na última sexta-feira (6), o governo japonês publicou uma mudança radical na escrita do nome japonês: primeiro o sobrenome e depois o nome quando for escrever em romaji também.
Isso quer dizer que nome japonês como Hayao MIYAZAKI será MIYAZAKI Hayao, seguindo essa nova regra.
Ou seja, se seguir essa regra meu nome ficaria:
Hiro Miyakawa -> Miyakawa Hiro
Ou alguns outros nomes famosos:
Akira Toriyama -> Toriyama Akira
Hayao Miyazaki -> Miayazaki Hayao
Tsuyoshi Nagabuchi -> Nagabuchi Tsuyoshi
China e Coreia
Esse modelo de colocar primeiro o nome da família na Ásia, é comum. E países como China e Coreia já escrevem nessa ordem, até mesmo em transcrições fonéticas.
Reação dos japoneses
Os japoneses reagiram de diversas formas à essa notícia.
Alguns à favor dizem que já estava na hora dessa mudança, e que normalizar tudo (ser a mesma ordem escrito em japonês tanto em roma-ji) será útil.
Alguns dizem que no 名刺(Meishi), no cartão de visita, de quem trabalha com estrangeiros, já é comum ter no verso a versão em roma-ji com sobrenome escrito primeiro, todas em maiúsculas, assim: MIYAKAWA Hiro.
Muitos à favor também concordam com o posicionamento do governo nessa tentativa da valorização cultural do Japão, assim como a China e a Coreia fazem.
O governo atual tem demonstrado o posicionamento de valorização nacional.
Por exemplo, pela primeira vez na história, escolhendo o nome da era do Japão baseado em uma poesia de origem japonesa, qual era comum ter uma origem de escritura chinesa tradicional.
Os que são contra, dizem que isso acarretará gasto desnecessário para esta mudança, além dos impostos pagos.
Os que moram no exterior também ressaltam que chamar a pessoa pelo primeiro nome é uma maneira carinhosa e facilita fazer amizade.
Ter o nome de família primeiro, pode ter uma diferença com os outros estrangeiros, criando uma estranheza ao redor.
Segundo essa pesquisa, por enquanto, 60% dos japoneses estão a favor da mudança.
A mudança é “oficial”?
Apesar de o governo japonês ter tomado essa decisão, não é uma imposição.
O governo japonês ainda está arrumando a casa, mudando os formatos nos departamentos internos, se ajustando com outros ministérios, antes de fazer uma avaliação com as organizações privadas.
“Qual a sua opinião pessoal, Hiro?“
Pessoalmente, eu costumo escrever muito os nomes já na ordem Sobrenome/Nome. Principalmente por ter o costume de falar já assim em japonês. Diversas vezes escreve Miyazaki Hayao em vez de Hayao Miyazaki, Toriyama Akira em vez de Akira Toriyama, etc.
Para nomes históricos como Tokugawa Ieyasu ou Oda Nobunaga, para mim é natural que seja assim. E soa um pouco estranho quando esses personagens marcantes estão na ordem Nome / Sobrenome.
Isso é mais uma estranheza minha, pois a minha língua materna é japonesa, e eu aprendi os nomes desses xoguns em japonês. Isso quer dizer que se eu tivesse sido introduzido em outro contexto, não seria estranho de nenhuma maneira.
Contudo, eu já estou acostumado a usar meu nome assim: Hiro Miyakawa. Daí entra novamente a importância do contexto.
Será que eu acharia estranho o caminho ao contrário, de colocá-lo para Miyakawa Hiro? Com certeza.
Eu confesso que eu não me sinto tão a vontade assim de agora mudar a ordem. Isso porque já estou acostumado assim, e a minha vivência no exterior (Brasil) é maior, então para mim é estranho colocar dessa forma.
Até mesmo quando trabalho com os japoneses, eu costumo me apresentar como Hiro, e não Miyakawa, que seria o comum no Japão. Isso é uma maneira de me abrir e mostrar amistosidade ao pedir que me chame pelo nome próprio. O protocolo padrão no Japão é de chamar, pelo menos à primeira vista, pelo nome de família.
O que para os japoneses que não têm tanta comunicação fora do país não seja tão importante. Os políticos japoneses já começaram a colocar os nomes deles na nova ordem (ou a ordem tradicional), até mesmo nas redes sociais.
Eu sinceramente vou levar um tempo para me acostumar – ou quem sabe, acabar nem mesmo mudando. Talvez eu permaneça me apresentando como Hiro Miyakawa mesmo.
Fontes:
Agradecimento a Luciana Soares pela revisão do texto 🙂
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Nipobrasileiro arretado de Recife. Fundador do Kotobá – Japonês Simples! Acredita que a mudança vem pelo empoderamento das pessoas. Gosta de café, livros e passear de skate.
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